A 28 de Janeiro de 2013, coloquei algumas roupas numa mala de 50 cm, dois pares de botas e embarquei num avião com destino a Londres.
No dia em que decidi deixar a pessoa e a vida que não me estava a fazer feliz, senti que deveria deixar também não apenas a cidade, mas o país. Naquela que foi a viagem mais longa e dolorosa da minha vida, enquanto tinha a cabeça pousada no ombro do meu pai e as lágrimas a escorrerem-me pela cara, senti que deveria vir para Inglaterra. O meu pai, estava tanto ou mais magoado do que eu. A dor era tanta que se tornou física. Tentei adormecer para aliviar a dor, mas sem êxito. Fechei os olhos e senti que deveria vir para Inglaterra. Talvez por um mês de férias, se me sentisse bem, talvez ficar um ano ou dois. Precisava deixar não só o que me fazia mal, mas precisava também deixar o que me fazia bem - os amigos e a família. Senti que precisava sofrer sozinha, ultrapassar e recomeçar.
Levantei a cabeça e disse ao meu pai:
-O que achas de eu ir para Inglaterra?
-Inglaterra? De férias?
O meu pai ficou calado e eu também. Passado alguns segundos...
-Acho que te faria muito bem. Precisas de estar num sítio onde não há lembranças e conhecer pessoas novas.
E foi assim. Não foi fácil, a nova cultura, as saudades mas senti que era o melhor para mim. Senti-me cobarde por deixar tudo, sem explicações. Estava triste, como nunca me sentira antes. Assim que cheguei a Inglaterra, senti-me inexplicavelmente confortada e esperançosa. O primeiro mês não foi fácil, muitas noites em branco e muitas lágrimas, mas senti também que tudo iria ficar bem. Passado um mês, decidi ficar em Inglaterra a viver. Já que iria começar do zero, começaria então num sitio novo.
Deixei tudo. Apesar dos medos, senti que tudo iria ficar bem e tudo ficou de facto. Vim a achar que tinha perdido muito, mas agora reconheço que todas essas perdas me trouxeram muito mais. Viajei, fiz muitas compras, conheci vários lugares e pessoas. Fiz voluntariado e comecei a trabalhar. Tirei cursos e formações. Em Novembro do mesmo ano, conheci aquele que se tornou meu marido.
Acredito que os sonhos se podem tornar realidade por isso nunca desisto deles. Uma grande amiga me disse na altura, que não fui cobarde em deixar tudo e vir. Disse-me que eu era corajosa por o fazer. Na altura, não achei. Agora, concordo com ela. Deixar o nosso porto seguro, enfrentar medos para correr atrás dos sonhos é a coisa mais corajosa que alguém pode fazer na vida. É preciso ter coragem para mudar de país, sim, mas é preciso ter muita mais coragem para correr atrás dos sonhos dia após dia, independente de quais eles sejam. O mais importante é não deixar as opiniões, a dor e o medo, parar-nos antes mesmo de começarmos. Se sentirmos que é o melhor para nós, devemos nos deixar ir e tudo se resolve, tudo fica bem no final.
A vida é agora. Estou a viver a vida que sempre sonhei. Claro que não é perfeita, como a vida de qualquer outra pessoa, mas sou muito feliz e tenho muitos momentos perfeitos. Mudar de vida e de país, foi a mais difícil e melhor decisão que eu já tomei. É preciso ter coragem para mudar de vida, para se ser feliz, para se ir atrás dos sonhos, para se mudar o que não se pode aceitar. Mas a persistência e o tempo, ensinam que tudo vem na altura certa, que tudo se resolve e tudo fica bem. A felicidade e o amor estão a uma escolha de distancia.
-Lace-it-girl
0 comentários:
Enviar um comentário