Como [sobre]viver com um pé partido

Ter um pé partido, por si só, é chato, muito chato, é doloroso. Ainda pior, quando se está grávida e se tem uma filha de 14 meses. Não é fácil. 
Enquanto estive no hospital, entre as lágrimas de dor, tinha as lágrimas de preocupação. Pensei como iria ficar entre um mês e meio a dois meses a recuperar desta fractura, estando grávida e com a minha filha que é uma aventureira e não para um bocadinho. Acrescentando o facto de não poder ir trabalhar. Primeiro entrei em pânico e depois fui acalmando com o apoio e mimo dos que me rodeiam. E, a primeira dica para uma mãe de pé engessado é mesmo esta:



1. Aceitar ajuda: 

A mais difícil e importante de todas. Custa muito depender de outros, mas nesta fase, é mesmo necessário. Eu sou o tipo de pessoa que adora ajudar e não gosta de ser ajudada. Esta é a situação perfeita, para não só aceitar mas também pedir ajuda. Custa inicialmente, mas a verdade é que todos se sentem bem a ajudar e pedir só nos torna mais humildes. Receber e pedir ajuda aos outros naquilo que é mesmo necessário e não fazer dos outros escravos, obviamente. 
Se os amigos e familiares ligam a oferecer ajuda - aceita. Alguém vem visitar e é preciso alguma coisa - pede. Custa, é difícil e eu ainda estou a aprender a fazer isso. 
O meu marido, especialmente durante a gravidez, pede-me para que me sente, que descanse que ele ajuda e faz. Oferece-se para me fazer massagens, nos pés e costas. Eu vou dizendo que não é preciso. Que não vale a pena. Agora, digo que sim. Preciso da ajuda e mimo dele. 


2. Estipular tarefas: 

Enquanto o marido arruma a cozinha ou está a fazer qualquer outra coisa, eu posso dar de comer à bebé, mudar a fralda ou roupa. Se alguém vai às compras, mando uma lista do que preciso. Enquanto o meu marido vai trabalhar, os pais ficam com a bebé. Pedir que levem a minha filha a passear e a passar tempo com outras crianças, é bom para ela e para mim que não tenho de ficar com o coração nas mãos, por não poder ir atrás dela. 
Decidir quem pode e faz o quê. Porque, por muito que eu queira fazer, a minha mobilidade é reduzida e principalmente na primeira semana, o repouso deve ser absoluto e é essencial. 


3. (Muito) Conforto:

Estar o mais confortável possível e ter aquilo que mais preciso ao meu alcance. Roupa larga e confortável, para facilitar o (pouco) movimento. Almofadas, muitas almofadas - para as costas, pescoço, barriga e para a elevação da perna. Carregador do telemóvel, portátil, livros, lenços, água, entre tudo o resto que mais uso e preciso. 
Fico hora após hora no sofá ou na cama, e as coisas essenciais perto, sem ter que estar sempre a pedir, torna tudo mais fácil. 
O conforto também passa por não ter dores, o que é difícil quando se tem um osso partido. Eu tomei a decisão de não tomar mais nada, a não ser que a dor seja extrema. Em geral, não gosto de tomar medicação - evito ao máximo. Estando grávida, muito menos. 
Em situações como a minha, dão paracetamol que pouco ou nada faz quando se tem um osso partido. Os médicos acharam que devido à fractura que eu tenho, ainda que esteja grávida, deveria tomar algo mais forte. No primeiro dia no hospital deram-me morfina líquida. E no segundo dia, Codeine, que foi também o que trouxe para casa. Alivia bastante a dor, mas pensei que posso aguentar um pouco e evitar tomar mais medicação, que possa trazer riscos para a bebé. Desde que voltei para casa que não tomo nada e espero não voltar a tomar. E a verdade, é que se estiver quieta, pouco ou nada me dói, mas assim que me começo a mexer a dor aumenta logo.




4. Muletas:

As benditas ou malditas muletas. Eu não gosto delas e ainda não sei usá-las muito bem. Ajudam, é um facto. Facilitam as idas à casa de banho ou quando me quero levantar um pouco. Magoam as mãos e tenho a sensação que vou cair ou escorregar a qualquer momento. Nas minhas tentativas de me agarrar a outras coisas e ir aos saltos, só não cai por muita sorte, por isso o uso das muletas é  necessário, ainda que não goste.



5. Aproveitar o tempo:

Tempo é o que mais tenho agora, mas com mobilidade reduzida não são muitas as coisas que possa fazer. Ver filmes, séries, ir ás redes sociais, é algo que posso fazer mais mas é pouco produtivo e torna-se aborrecido. Há imensas coisas que vou adiando, de que me esqueço e que vão acumulando e agora é a altura perfeita de por algumas coisas em dia e fazer algo mais produtivo. Como escrever nos diários, no meu, no da minha filha e no da gravidez. Mandar e-mails, mensagens e ligar a pessoas com quem já não falo há muito tempo, ou que eu ainda não tenha respondido. Organizar e transferir as fotografias do telemóvel e máquina fotográfica para o computador. Ler os livros que estão na prateleira há imenso tempo. Fazer a lista da mala para a maternidade, para mim e para a bebé. Acabar os cursos online, que estou a fazer. 
Bem, há coisas que posso fazer, sem ter de mexer a perna, para me distrair e pôr em dia muitas das coisas que normalmente não tenho tempo para fazer. 



                                        



6. Alimentação saudável:

Deve-se tentar sempre comer bem e de forma saudável, ainda mais quando se está parado dias e dias, semana após semana, sem fazer qualquer tipo de exercício. A tentação de comer snacks e mais snacks e de comer "porcaria" é muita, principalmente quando se está aborrecido. Estou no último trimestre da gravidez e é quando se ganha mais peso. Não aumentei muito peso durante a gravidez e não quero aumentar bastante agora. Manter uma rotina, de três refeições por dia de qualidade e não quantidade é o que tento fazer e depois tento comer snacks saudáveis. Não vou pretender que só como coisas saudáveis, porque não é verdade, se me apetece um chocolate ou uma fatia de bolo eu como, mas não todos os dias. Faço um esforço para manter um equilíbrio e assusta-me mesmo engordar durante as próximas semanas. 
Beber água e muita, é óptimo. O único problema é que isto significa que haverão mais idas à casa de banho, o que consequentemente trará mais dores assim que me levantar e andar. Assim sendo, tento manter uma rotina para ir à casa de banho e também evito beber ou beber muito quando vou dormir.




7. Exercício:

Se é que se pode chamar exercício, mas é uma tentativa de alongar e mexer o corpo mesmo estando 'de cama'. Eu não gosto de estar parada por muito tempo, e sem dúvida que partir o pé e estar em repouso tem sido um grande desafio para mim. Estando grávida, só me torna mais impaciente e desconfortável. De manhã quando acordo e ao final do dia tento me alongar e exercitar o corpo todo, mãos, pulsos, braços e ombros, costas, perna e pé direitos e tentar não mexer de todo a perna esquerda. Exercícios simples, como alongar, mexer em todas as direcções, levantar, etc. Ajuda, com as dores no resto do corpo e alivia algum desconforto.


Amanhã faz uma semana e tudo tem corrido bem melhor do que pensava. No entanto, quando penso nas semanas de recuperação que ainda tenho pela frente, desespero. Vou continuar a pensar naquilo que posso fazer e que posso descansar também esta barriguinha, que bem merece depois de tanto stress nas últimas semanas. Manter a calma e positivismo estando limitada não é fácil, mas é mais um dos exercícios que me resta praticar.
Vou [sobre]vivendo, porque tenho as melhores pessoas a ajudarem-me e eu tenho feito por me manter activa (dentro dos limites). O miminho é sempre bom e faz milagres.

-Lace-it-girl


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